Nasci em 15 de janeiro de 1965 em São Paulo, capital. Minha infância foi vivida no bairro da Aclimação, um lugar muito tranquilo e arborizado. Fui uma criança muito levada e não levava desaforo para casa, apesar de ser bem baixinha.
Fui uma criança privilegiada porque tinha excelentes avós. Meu avô me ensinou a nadar e a pescar. Tínhamos uma casa de praia em Itanhaém e eu passava todas as minhas férias lá. Lembro-me como se fosse hoje do tempo maravilhoso que passei. São apenas lembranças doces.
Quando fiz 13 anos, nos mudamos para bem perto do Clube Pinheiros e formei um grande grupo de amigos e amigas; na verdade, éramos muitos. Consegui manter muitas amizades até hoje. Isso, realmente, é maravilhoso.
Tenho muitas lembranças de vários lugares onde ia com minhas amigas nas férias e fins de semana. Lugares que têm muita história para contar. Avaré e Ubatuba foram os principais lugares.
A vida é muito engraçada. Fiz cursinho para a faculdade de veterinária e no último minuto mudei para Direito. Nada a ver, mas foi o que eu fiz.
Fiz Direito na PUC/SP entre 1985 e 1989. Fui aprovada no exame da OAB e assim nasceu uma advogada.
Na verdade, nunca gostei de advogar e mudei meu destino bem rápido.
Casei em 1991 com um gaúcho de boa alma. Um homem centrado e muito familiar. Começamos com uma vida bem controlada, pois o dinheiro era curto, mas batalhamos juntos.
Meu primeiro emprego na minha área foi no Procon/Secretaria da Justiça do Estado de SP. Trabalhei de 1993 a 1998. Aprendi muito sobre o Direito do Consumidor. Depois montei a MGK Assessoria, voltada para a liberação e regulamentação de mercadorias.
Em 2000, fiquei grávida, e em 2001 nasceu meu filho, Pedro. Nossa, quanta responsabilidade eu senti na época. Minha vida mudou completamente, pois ele era em primeiro lugar e não mais eu.
Nunca fui uma mãe em tempo integral, pois sempre tive necessidade de ter meu tempo e meu espaço. Graças a Deus, meu marido sempre me entendeu e me apoiou. Às vezes, me comparava com minhas amigas, mães em tempo integral, e me sentia uma péssima mãe, mas com o passar do tempo, entendi que eu era uma excelente mãe em tempo parcial (fazer análise ajuda muito).
Quando Pedro completou 01 ano de idade, mudamos para Fortaleza para começarmos uma nova vida. Vocês sabem como o assunto família é complicado; tivemos uma decepção muito forte e sentimos a necessidade de recomeçar em outro lugar.
Aprendi que recomeçar longe das pessoas que nos conhecem é muito mais fácil, pois não tem ninguém nos julgando em como recomeçamos.
O povo cearense é maravilhoso e hospitaleiro, e logo fizemos muitas boas amizades que até hoje se mantêm.
Em fevereiro de 2006, fui diagnosticada com câncer na mama esquerda. Graças a Deus, foi pego bem no comecinho e era bem pequeno e não invasivo. Tive que fazer uma cirurgia para a retirada e aproveitei e fiz uma plástica (ninguém merece ter um seio maior do que o outro!).
Minha família e amigos me apoiaram muito, principalmente meu marido e minha irmã. Tive amigos maravilhosos que me ajudaram a manter a rotina do Pedro durante o meu tratamento, e com isso, ele não soube do que se tratava.
Fiz radioterapia e hormonioterapia e não tive que fazer quimioterapia. Foi um período difícil, mas passou. Tudo passa nessa vida.
O mais importante é você confiar no seu médico e não ter medo. Até hoje mantenho contato com ele e o tenho como um amigo. Ele sempre me incentivou com suas palavras. Ele me falava que eu amava a vida e que eu era uma guerreira.
Creia em Deus, tenha vontade de viver e lute, lute todos os dias.
Meu filho tinha apenas 6 anos de idade, e eu queria vê-lo crescer e entrar numa faculdade. Com isso, lutei e não olhei para trás.
O mais interessante é que a única parte do meu corpo que eu achava bonita eram os meus seios. Meu cirurgião plástico me disse que, se não fosse pelo câncer, ele não teria feito a plástica.
Eu tinha 42 anos. Eu somente agradecia porque tinha sido nos seios e não em outra parte vital do meu corpo. Me sentia privilegiada com isso.
Em 2011, mudamos para Orlando. Sempre gostamos muito da cultura americana e conseguimos atingir nosso objetivo. Foi uma adaptação fácil, pois queríamos muito isso. Minha preocupação era a adaptação do meu filho na escola. No primeiro dia de aula, eu estava tão estressada que tomei 2 calmantes. Quando fui buscá-lo, perguntei como ele tinha se sentido, e a resposta foi: ADOREI. Como nos preocupamos demais antes da hora. Ele se adaptou super bem.
Passamos 05 anos trabalhando muito, e em junho de 2016, comecei a sentir muita falta de ar. Fui 2 vezes no hospital, e eles me tratavam como se fosse pneumonia e me liberavam para casa. Eu não melhorava e somente piorava.
Um dia, não conseguia mais respirar, e meu marido me levou para a emergência. Chegando lá, viram que eu não tinha saturação e me colocaram no oxigênio e me encaminharam para o quarto. Mas eu não melhorava, não conseguia respirar. Meu marido estava apavorado e gritava por ajuda. No meio dessa confusão, Deus me mandou um anjo. Uma enfermeira da UTI estava passando pelo corredor e veio me ajudar.
Imediatamente, me levaram para a UTI, fizeram exames, e fui diagnosticada com apenas 10% dos meus pulmões funcionando. Ou me entubavam ou eu morria.
Fiquei 10 dias em coma induzida. Foi um período que eu estava num limbo. Muito esquisito a sensação. Vivenciava um sonho muito louco. Era um verdadeiro horror. O Pedro tinha se alistado na AL-QEADA, e os EUA tinham que matá-lo. Por outro lado, o Clóvis me dizia o tempo todo: "Não morra, pois eu não sei viver sem você" (e isso era verdade, depois ele me contou). Era uma luta do bem contra o mal. O bem eram as palavras do Clóvis que me mantinham lutando pela vida, e com o Pedro morto, eu não tinha mais vontade de viver. Graças a Deus, o bem venceu, e eu resisti, pois estava completamente desenganada.
Durante 10 dias, os médicos tentaram vários tratamentos, até que conseguiram reverter, e os meus pulmões começaram a funcionar.
Quando eu fui desentubada, somente gritava porque mataram o Pedro. Minha irmã estava comigo e conseguiu me acalmar. Que sensação terrível, espero nunca mais passar por isso. Somente fiquei calma quando ele chegou. Foram os piores dias da minha vida.
Quando saí do coma, os médicos vieram falar comigo que eu era um milagre.
E se isso não bastasse, fui diagnosticada com câncer na mama direita, bem grande, tipo 4, agressivo e com metástase nos linfonodos.
Eu estava muito fraca, fiquei mais 20 dias hospitalizada. Mas a vida continua, e logo teria que começar meu tratamento.Fiz 18 sessões de quimioterapia, não foi fácil, fiquei careca e o Clóvis também ficou, para me incentivar. Eu achei que seria muito difícil ficar careca, mas não foi. Eu até que fiquei bonitinha. O pior foi passar pelos vômitos e diarreias, mas como escrevi antes, tudo passa. E novamente eu tinha o Clóvis e o Pedro para me ajudar.
Não vou dizer que foi fácil, pois seria uma mentira, mas lutei muito, pois queria ver meu filho entrar na faculdade.
Vou contar um segredo: Eu amo a vida, e com isso, ficou mais fácil a minha luta. Fiz várias cirurgias. A primeira foi para colocar o cateter para a quimioterapia. A segunda foi para retirar as mamas. Fiz mastectomia (fiquei sem as mamas, é muito difícil para uma mulher ver assim). A terceira foi para fazer a reconstrução das mamas. Foi feita junto uma abdominoplastia, pois a gordura da barriga foi usada nas mamas. Eu não poderia ter silicone. A quarta e última foi a retirada do cateter.
Em 2018, fui declarada livre do câncer. Valeu toda a minha luta pela vida.
Em janeiro de 2019, meu marido faleceu num acidente de moto. O outro motorista não parou no Stop Sign. Ele morreu na hora. O mais louco foi que na hora que ele morreu, eu senti, sabia que ele tinha falecido.
Foi um outro período muito difícil na minha vida. Ainda bem que eu tinha meu filho. E também tinha minha loja, e com isso, tinha o que fazer.
A minha vida sempre foi uma batalha depois da outra, mas o mais importante é nunca desistir. Tirei o maior proveito de todas essas tristes experiências, e hoje somente dou importância para o que realmente vale a pena: A VIDA.
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